Morreu de Uma Burrada
Raimundo Patrício Gomes é um pequeno produtor
rural, dono de uma roça de 100 tarefas (aproximadamente 30 ha) localizada no
distrito de Muquém, na cidade de Brejo Santo, Ceará. Lá ele criava um gadinho e
também plantava um pouco de milho e de feijão.
Por causa da seca de 1997 ele perdeu tudo o
que tinha plantado o que o fez pensar: “Se
ao menos eu tivesse um poço profundo ou uma cacimba, poderia irrigar a
plantação e ter colhido alguma coisa”.
Como o Governo Federal, sensível aos
problemas provocados pela estiagem, resolveu abrir uma linha de crédito
especial, com condições subsidiadas, para os produtores rurais do Nordeste do
Brasil, o nosso herói não perdeu tempo. Foi direto ao Banco do Nordeste e fez
um empréstimo para construir a sua cacimba.
Depois que assinou o contrato, o Raimundo era
todo prosa. Sabia que agora o seu destino mudaria, pois teria condições de
enfrentar uma estiagem. E tudo isso com a simples ajuda de um poço.
Porém, depois de já ter recebido as duas primeiras
parcelas do empréstimo (faltando receber a última parte do empréstimo que só
sairia depois que o poço estivesse construído e com a motobomba instalada e
tudo funcionando nos conformes) para surpresa de todos, apareceu na
agência triste, abatido, com um ar
preocupado. Indagado sobre o que tinha acontecido respondia enigmaticamente :
“Um
desastre. Estou arruinado. Preciso falar com o gerente. Só ele pode me acudir.”
Levado ao gerente confidenciou:
-
“Seu” gerente.
Preciso saber se o senhor pode liberar a última parcela do meu empréstimo para
construir o poço.
-
Claro. Se o seu poço
estiver concluído lhe entregamos o dinheiro agora mesmo.
-
O pior, “Seu”
gerente, é que não está pronto não. Mas eu preciso do dinheiro mesmo assim.
-
Mas o que foi que
houve para tanta tristeza e agonia?
-
Sabe o que foi? É que
o moço que eu contratei para cavar o poço morreu e preciso do dinheiro para
ajudar no enterro e para limpar o poço.
-
Mas o senhor não
disse que o poço ainda não está pronto? Por que então precisa limpá-lo?
-
É que o moço morreu
dentro do poço.
-
Ah, coitado. Mas
morreu de que?
-
Morreu de uma
burrada.
-
Mas como assim? Que
foi que o moço fez de tão estúpido para morrer?
-
Não, “Seu” gerente.
Não fez nada, não.
-
Agora eu não estou
entendo é mais nada. O senhor não disse que ele morreu de uma besteira que ele
fez?
-
Não. Eu disse que ele
morreu de uma burrada.
-
Pois então, não é a
mesma coisa?
-
Não, não é!
-
Então me explique
isso. Me conte como foi que ele morreu.
-
É que o moço que
cavava o poço morava muito longe da minha propriedade. Por isso ele vinha
trabalhar, todo dia, no lombo de um burro. Só que, “onti” ele esqueceu de
amarrar o burro.
-
Sim, daí?
-
Aí, o burro começou a
pastar. Comeu aqui, comeu ali e de repente, o burro mexeu onde não devia e
algum bicho assustou ele. Tenho prá mim que foi coisa de cobra.
-
Sim, homem. Conte
logo.
Falou o gerente ansioso pelo desfecho.
-
Pois bem. No susto, o burro desembestou a correr e na correria acabou caindo
dentro do poço. Morreu o burro e, pior, matou o moço, que cavava o poço. O
senhor entendeu agora? Ele morreu de uma burrada.
Max
Albuquerque
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