Encerrando Ciclos
Fernando Pessoa
Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final.
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário,
perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver. Encerrando
ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o
que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu
sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode
dizer para si que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que
levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem
subitamente transformadas em pó.
Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seu
marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã, todos estarão encerrando
capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você
está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo
quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos,
adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais,
amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a
menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente
possam ir embora.
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações,
mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que
tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que
está acontecendo em nosso coração .... e o desfazer-se de certas lembranças
significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida
com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que
descubram seu gênio, que entendam seu amor.
Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo
programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará
apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos,
promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre
são adiadas em nome do “momento ideal”.
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a
si mesmo que o que passou, jamais voltará. Lembre-se de que houve uma época em
que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa, nada é insubstituível, um hábito
não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando
ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque
simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser
quem era, e se transforme em quem é.
Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu
próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és...
E lembra-te: “Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”
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